"Você tem certeza de que ela é realmente competente?"
"Sim, pelo menos é o que dizem...", seu assessor lhe informou, esboçando um sorriso nervoso que lhe era característico. Essa resposta não foi nada tranquilizadora, tampouco o era a chuva torrencial que parecia desabar furiosamente, como se alguém estivesse virando uma bacia cheia d'água do lado de fora do carro. Uma bacia, deve-se dizer, com um fundo aparentemente infinito.
"Bem, espero que isso seja verdade, pois não quero perder tempo com algo que não vai melhorar nossa situação", ele disse, tentando ignorar os celulares que vibravam insistentemente no bolso, provavelmente seus subordinados requisitando direcionamento diante do caos instaurado na cidade pelas chuvas. Um caos que se repetia todos os anos, quando essa estação chuvosa fazia sua entrada triunfal. Se era algo tão recorrente, por que o povo ainda não se acostumara? Sabendo dos pontos crônicos de alagamento, que entravam e saíam governos sem alterações, o que esperavam que ele fizesse? Mudar a tradição? Bastava apenas se adaptar, evitar tais locais e tudo se resolveria. Como prefeito, ele não deveria ser responsabilizado por consertar tudo!
"Chegamos!", anunciou seu assessor, apontando para uma pequena casa situada em um ponto elevado da rua. Era uma residência no mínimo peculiar, não apenas pela localização em um bairro repleto de terrenos baldios e casas abandonadas, esquecido pela especulação imobiliária, mas também por sua arquitetura que misturava o antigo, com traços coloniais, ao moderno, como se fosse uma verdadeira colcha de retalhos. Ao se aproximarem da casa e estacionarem o carro na frente do jardim, pavimentado com paralelepípedos, o prefeito notou algo surpreendente: ali não chovia. Ele olhou para o céu, meio atônito, ao ver um claro azul se abrindo sobre a estranha casa. E somente ali, pois nos terrenos vizinhos a forte chuva continuava a cair. Aquilo só podia ser um sinal.
"Viu? Parece que os boatos são verdadeiros!" exclamou o assessor, cheio de entusiasmo, enquanto abria a porta do carro para o prefeito.
Com uma expressão cética, o prefeito apenas murmurou em resposta. Para ele, aquilo tanto podia ser um sinal quanto uma mera coincidência. Afinal, ele só acreditaria na suposta habilidade da mulher ao vê-la com seus próprios olhos. Ignorando o desconforto, seguiram pelo caminho que levava à casa. O assessor, sempre à frente, abria passagem através do jardim, onde ervas daninhas e flores silvestres lutavam por espaço.
A cada passo, o humor do prefeito deteriorava ao ver seus sapatos caros sendo manchados pela areia e pela terra úmida. Ele resmungava, questionando a situação: se tal mulher possuía os poderes que diziam, por que não seria ao menos rica? Por que não morar em uma mansão, ao invés de uma casa tão modesta e desgastada?
Quando finalmente chegaram à soleira da casa, o assessor, ainda esperançoso, bateu na porta com hesitação, mas não obteve resposta. Virou-se para o prefeito com um olhar desconcertado.
"Por Deus, seja mais firme!" exclamou o prefeito, impaciente. Ele empurrou o assessor de lado e bateu na porta com força, o som ecoando pela estrutura antiga.
"Aqui é o prefeito! Abra a porta!" gritou, sua voz impregnada de autoridade e uma ponta de frustração, enquanto aguardava algum sinal de vida dentro daquela estranha residência.
Ele estava prestes a bater novamente quando, com o punho ainda erguido, parou abruptamente ao ver a porta se abrir. A figura que emergiu desafiava todas as expectativas tradicionais de uma bruxa: não havia sinais de velhice, rugas profundas, nem a aparência macabra das típicas bruxas dos contos de fadas e dos filmes da Disney. Em vez disso, diante dele estava uma jovem que parecia ter não mais que 25 anos. Seus cabelos castanhos, que caíam em ondas até as pontas tingidas de vermelho vivo, emolduravam um rosto claro de traços suaves e arredondados. Atrás de óculos com armações azuis modernas, seus olhos observavam calmamente a cena à sua frente. Vestida de maneira despojada, ela usava uma camisa folgada com o logotipo de uma banda de rock e calças jeans desbotadas, complementando a simplicidade com os pés descalços sobre o umbral da porta.
O prefeito, totalmente despreparado para esse encontro, ficou sem palavras, capturado pela presença inesperadamente atraente da mulher.
"Você é a Diana? Não é isso?" indagou o assessor, quebrando o silêncio que se instalara enquanto o prefeito permanecia boquiaberto e ela aguardava pacientemente por uma resposta.
"Sim, sou eu," respondeu ela, dando um passo para trás e abrindo espaço. "Podem entrar." Sua voz era tranquila e convidativa, sem um pingo de hesitação ou curiosidade sobre quem eles eram ou o que queriam. Ela parecia estar acostumada a receber estranhos, ou talvez apenas confiante o suficiente para lidar com o que quer que essa visita inesperada trouxesse.
"Bem... Vamos?" indagou o assessor, lançando um olhar impaciente ao prefeito que, por sua vez, pigarreou e murmurou algo inaudível, claramente desgostoso com a ideia de ser pressionado a agir.
Eles entraram na casa, que se revelou um santuário peculiar. O hall estava repleto de vasos de plantas de diversos tamanhos, pilhas de livros em cantos inesperados e espelhos estrategicamente posicionados, que multiplicavam a luz e criavam uma sensação de amplitude. Caminhavam com cautela, evitando tocar nos objetos que pareciam dispostos com um propósito quase místico. Enquanto isso, Diana movia-se com uma destreza notável, guiando-os até um espaçoso cômodo que servia como sala de estar.
Diferentemente de uma sala convencional, não havia sofás nem poltronas. Em vez disso, almofadas coloridas e tapetes estampados cobriam o chão, cercados por uma variedade de plantas tropicais que transformavam o ambiente em algo semelhante a uma floresta interior. Diana sentou-se graciosamente sobre os calcanhares em uma das almofadas, indicando com um gesto tranquilo que eles fizessem o mesmo.
O prefeito, visivelmente desconfortável com a ideia de se abaixar, hesitou. Sentindo o peso da idade e de sua barriga proeminente, ele tentou manter a compostura enquanto se acomodava no chão, ofegante. O assessor, esguio como um esqueleto, sentou-se com facilidade, adaptando-se rapidamente ao ambiente não convencional.
"Nós viemos aqui..." começou o prefeito, tentando iniciar uma conversa formal, mas foi abruptamente interrompido por um coro de coaxares. Com um sobressalto, ele olhou ao redor, apenas para ver uma variedade de anfíbios — sapos de diferentes tamanhos e cores vivas — emergindo dos vasos e saltitando pelo chão.
"Mas o que...?" exclamou, perplexo.
"Você dizia?" Diana perguntou, sem demonstrar surpresa ou incômodo com a aparição dos anfíbios. Um grande sapo-cururu repousava agora tranquilamente em seu colo, observado por ela com uma serenidade que contrastava com a agitação do prefeito.
"Sim... Er..." O prefeito pigarreou novamente, afastando com desagrado os sapos que se aproximavam. "Me disseram que você controla o clima... isso é verdade?"
"Controlar? Não..." ela balançou a cabeça, desaprovando a escolha da palavra. "Essa palavra é errada. Não há jogos de poder aqui, nenhuma imposição de comandos. Eu apenas faço pedidos, e às vezes eles são atendidos."
"Pelo visto, seu modo de pedir deve ser muito eficaz..." observou o prefeito, notando que a casa estava protegida da torrencial chuva que assolava a cidade.
"Pode ser..." ela respondeu casualmente, encolhendo os ombros enquanto acariciava suavemente o sapo em seu colo.
O prefeito estava incerto sobre a credibilidade desse suposto poder, especialmente diante de respostas tão enigmáticas. Sentindo a necessidade de ser mais direto, perguntou: "Quanto você cobraria para fazer a chuva na cidade cessar?"
Ela o encarou, e foi só então que ele notou seus olhos de um azul reminiscente do céu de verão, quase hipnotizantes. "Por quanto tempo você gostaria que a chuva parasse?" ela rebateu com outra pergunta, o que irritou profundamente o prefeito.
"Bem, pelo menos até o fim das eleições... Você deve saber que a campanha vai começar em breve e toda essa chuva não ajuda. Especialmente agora que fiz algumas obras que se deteriorarão com toda essa água. Sem mencionar as constantes reclamações sobre os pontos de alagamento, o asfalto e o trânsito... Enfim, a chuva está sendo um grande obstáculo!" explicou ele, gesticulando com as mãos para enfatizar sua crescente frustração com a situação.
"Interessante..." murmurou Diana, enquanto o som de um trovão distante ecoava pelo ar.
"Interessante não, irritante isso sim!" retrucou o prefeito, claramente frustrado. "Então, você pode fazer isso? Se sim, me diga logo o seu preço..."
"Imagino que se você perder as eleições, a chuva poderia retornar?" indagou ela, desviando do pedido direto feito pelo homem.
"Como é? Bem... Acho que sim, já que, se eu perder, não há motivo para continuar me preocupando com as obras e tal. Até seria bom que a chuva complicasse a vida do próximo governo... Especialmente se for um rival meu!" comentou o político com um sorriso malicioso, que logo desapareceu de seu rosto. "E então? Você pode fazer ou não?"
"Sabe o que eu achei interessante?" disse Diana, com um leve sorriso enquanto acariciava o sapo em seu colo. "O fato de você pensar que a chuva em si é o problema..."
"E é!" interrompeu o prefeito, impaciente. "Talvez você não entenda, vivendo aqui, mas a chuva causa muitos problemas para a sociedade! Inundações, trânsito caótico e até propaga doenças!"
"Mas muitos desses problemas poderiam ser evitados, não é? Afinal, a chuva é um fenômeno natural, algo que sempre existirá... É a infraestrutura da cidade que deveria se adaptar a ela, não o contrário. Ruas com melhor escoamento, por exemplo..." argumentou Diana, oferecendo uma perspectiva alternativa.
"Ah! Céus, você soa como os opositores na câmara municipal!" queixou-se o prefeito, começando a levantar-se com dificuldade. O assessor prontamente foi ajudá-lo, embora também tivesse certa dificuldade para erguê-lo.
"Você não me disse que ela era de esquerda!" acusou o prefeito, dirigindo um olhar reprovador ao seu nervoso subordinado.
"Eu... Eu..." o assessor gaguejou, claramente desconcertado e incapaz de formular uma resposta adequada.
"Como eu já disse antes..." Diana falou com uma calma imperturbável, permanecendo sentada no chão e observando o prefeito com um ar de curiosidade intrigante. "Eu não controlo o clima; eu faço pedidos, e talvez sejam atendidos. É mais uma questão de... um vínculo amigável com as forças da natureza."
"Além de esquerdista, ela é louca," resmungou o prefeito, a irritação evidente em sua voz. "Vamos embora! Perdi meu tempo aqui... Podemos ligar para a assessoria de imprensa e pensar em alguma distração, talvez uma festa para fazer o povo esquecer essa chuva," ele continuou, já se deslocando e ignorando completamente a presença de Diana.
"Eu fiz o pedido," disse ela, finalmente se levantando e se aproximando do prefeito, que a encarou com desconfiança. "Vamos ver como será acatado."
"Fez, é? Eu não vi você fazendo nada! E não pense que irei pagá-la por esse 'serviço'," retrucou o prefeito, mas sua voz foi subitamente sobreposta por um trovão estrondoso que ressoou pela casa, fazendo vasos de plantas e espelhos tremerem.
"Senhor, talvez devesse pedir desculpas..." sussurrou o assessor, tentando aconselhar cautela.
"Pedir desculpas por quê? Eu não fiz nada de errado!" exclamou o prefeito, já marchando pelo corredor em direção à porta da frente. Em sua pressa, ele esbarrou em alguns vasos, fazendo-os tombar e quebrar.
"Eu... Sinto muito..." murmurou o assessor para Diana, claramente temeroso.
"Oh, não se preocupe, não estou ofendida. Mas não sou eu a quem ele realmente deve desculpas," respondeu ela, começando a se afastar em direção a outro cômodo da casa, cantarolando suavemente. Os sapos que estavam presentes começaram a segui-la, seus coaxares harmonizando com a melodia.
O assessor, sentindo o peso da situação bizarra e tensa, apressou-se em deixar aquela estranha residência.
Ao sair, o assessor foi surpreendido por um céu azul deslumbrante, sem a menor sombra de nuvens. A mudança não se restringia apenas acima da casa de Diana; estendia-se por todo o quarteirão e além, envolvendo toda a rua. Sim, a chuva havia cessado completamente. Ele não pôde conter um sorriso de excitação. Tinha funcionado; Diana realmente era uma bruxa do clima. Agora, pelo menos um dos problemas parecia estar resolvido.
O pedido feito por Diana fora atendido com uma precisão espantosa. Contudo, algo peculiar acontecia. Apesar do céu límpido, ainda era possível ouvir o som de chuva caindo e trovões ecoando. Intrigado, ele buscou pelo seu chefe e ficou perplexo com o que viu. A observação inicial tinha uma falha grave: de fato, o céu estava livre de nuvens, exceto por um local específico... diretamente acima do prefeito.
O político, tentando abrir a porta do carro, soltava uma enxurrada de palavrões. Sua visão estava prejudicada por uma chuva pesada e incessante que caía apenas sobre ele. Ele mal percebeu que essa chuva estava confinada a uma pequena área, centrada em uma nuvem cinzenta que flutuava alguns metros acima de sua cabeça.
"Maldita bruxa falsa!" ele gritava, sua voz quase abafada pelos trovões e relâmpagos. Logo, ele escorregou e caiu no meio-fio úmido, soltando ainda mais resmungos. Um raio surgiu da nuvem, caindo perigosamente perto, fazendo-o paralisar de medo. Só então ele parou para realmente analisar a situação. Viu o assessor, que observava a cena de um ambiente seco e ensolarado. Ao redor do assessor, tudo brilhava sob um forte sol, em um céu completamente desprovido de nuvens... exceto pela única nuvem que remanescia teimosamente sobre ele.
Mais um raio caiu, e ele desviou por muito pouco. Afobado e nervoso, tentou se levantar com dificuldade. "Me ajude!" gritou para o assessor, que, por sua vez, começou a recuar, claramente assustado. "Me ajude, seu idiota!" gritou novamente, mas a essa altura o subordinado já corria para longe, abandonando-o à sua sorte.
A chuva se intensificou, e algo pesado começou a cair sobre sua cabeça: granizo. Trovões rugiam e relâmpagos cortavam o céu enquanto uma ventania feroz se levantava. Ele começou a correr desesperadamente, a chuva e a nuvem implacavelmente o perseguindo. Era uma cena digna de um pesadelo, com o prefeito correndo pelos confins da cidade, gritando por ajuda enquanto os transeuntes observavam atônitos o estranho espetáculo do político sendo perseguido pela implacável nuvem chuvosa.
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